Pesquisas recentes mostram que economistas e gestores estão preocupados com os riscos de estagflação, mas o que é estagflação e como ela afeta o mercado e seus investimentos?

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Um dos termos mais falados no último ano é “Estagflação”.

Medidas recentes do Federal Reserve dos EUA e de outros bancos centrais para combater as altas taxas de inflação aumentaram ainda mais as preocupações com esse fenômeno. 

O cenário pós-pandemia de covid-19, juntamente com uma guerra no Leste Europeu e interrupções na cadeia de suprimentos, fizeram com que o presidente do Banco Mundial, David Malpass, elencasse a estagflação como: 

"O maior problema da economia global atualmente".

Ele alerta que esse processo econômico pode assolar o mundo por anos e que, para muitos países, a recessão será difícil de evitar.

O investidor Ray Dalio também é outro que alerta para o cenário de estagflação.

Segundo ele, este será o custo inevitável de reduzir a inflação que está em suas máximas em grande parte do mundo.

 Para Guido Mantega, o ministro da Economia mais longevo do Brasil, hoje temos uma estagflação no país.

Mas o que isso significa? 

Entenda como a combinação de “estagnação” e “inflação” implica no cenário econômico e nos investimentos.

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O que é estagflação?

A estagflação é um termo usado para designar uma situação econômica que combina baixo crescimento econômico com inflação elevada.

A expressão vem da junção das palavras “estagnação”, ou seja, uma economia que não cresce, e “inflação”, caracterizada pelo avanço das taxas de produtos e serviços.

Quando um país passa por um período de crescimento econômico acelerado, o mercado de trabalho se expande, aumenta a renda disponível para consumo e, consequentemente, tende a causar elevação dos preços, resultante da lei da oferta e da procura.

Porém, quando esse momento de alta acelerada de preços se combina com uma queda acentuada na atividade econômica do país, desaceleração do PIB e o aumento do desemprego, temos a estagflação.

A combinação de inflação em alta com desaceleração da atividade e aumento do desemprego é extremamente preocupante para a economia e fica muito difícil para os governos e bancos centrais encontrarem o equilíbrio.

Com a inflação alta, é preciso adotar políticas para contê-la, como elevar os juros, por exemplo, porém isso poderá desacelerar ainda mais a economia e gerar mais desemprego.

Por outro lado, se o Banco Central reduzir os juros para incentivar a atividade econômica e a geração de empregos, a inflação pode sair de controle.

Para a população, o cenário de estagflação é percebido pela falta de empregos, afinal, a economia está parada e pela queda no poder aquisitivo, causada pela alta dos preços.

Qual a origem do termo estagflação?

O termo estagflação vem da junção das palavras “estagnação” e “inflação”, do inglês, stagnation e inflation.

Esta nomenclatura foi criada em 1965  pelo político britânico Iain Macleod, que a utilizou pela primeira vez em um discurso para designar o momento econômico do Reino Unido da época.

Sua intenção era definir o que seria “o pior dos dois mundos” para um país, a recessão e a inflação.

O termo estagflação (stagflation) ganhou popularidade mundial durante a crise global do petróleo na década de 1970 

O que causa a estagflação?

Ninguém sabe com certeza qual a causa do cenário de estagflação, mas a maioria das análises apontam para uma combinação de choques externos e erros de política.

Para entender como a estagflação se forma, primeiro é preciso compreender alguns princípios básicos de macroeconomia e política monetária.

De forma geral, as taxas de inflação e de desemprego apresentam uma relação inversa no curto prazo. Isso significa que se uma taxa sobe, a outra tende a cair.

Veja:

Um cenário de crescimento econômico tende a gerar postos de trabalho, aumentar o nível de renda e consumo, o que resulta no encarecimento de bens e serviços.

Para manter a inflação em níveis controlados, o governo adota medidas de contração da economia, que reduzem a oferta de emprego.

Essa relação entre inflação e desemprego é conhecida como Curva de Phillips. 

Gráfico de Curva de Phillips
Relação entre taxa de inflação e desemprego.

Por décadas, os economistas acreditaram que essa relação entre inflação e desemprego eram inversas e que era impossível as duas taxas avançarem ao mesmo tempo.

Porém, é exatamente isto que acontece em um quadro de estagflação.

A inflação aumenta, os produtos ficam cada vez mais caros, ao mesmo tempo em que as empresas reduzem a produção e cortam vagas de trabalho.

A estagflação pode ser fruto de eventos internos e externos difíceis de prever.

Em relação aos eventos externos, fatores como a pandemia ou conflitos internacionais podem ocasionar um choque de oferta de commodities que pode atingir economias de diversos países ao mesmo tempo.

Vimos isso acontecendo na alta dos preços das principais commodities mundiais, com o trigo, o petróleo e o gás natural, em decorrência da guerra da Rússia e Ucrânia.

A pressão nos preços dos combustíveis, por exemplo, tem um efeito cascata em outros setores, dificultando a recuperação da economia.

No cenário interno, a interferência na produção local e eventos climáticos também podem impactar na inflação e a oferta e demanda. 

Somam-se a decisões equivocadas da economia como erros sobre previsões macroeconômicas, avaliações equivocadas e políticas cambiais ineficazes.

Geralmente, o cenário de estagflação surge em decorrência de uma sequência de fatores.

Ela tende a começar com uma política monetária expansionista que injeta quantias muito elevadas de dinheiro na economia.

Falando especificamente no cenário atual, isso aconteceu em consequência da pandemia causada pela covid-19.

Com a necessidade do isolamento social, o desemprego aumentou, mas o governo injetou dinheiro na economia com a criação do Auxílio Emergencial, visando estimular o consumo no período e manter as famílias com condições de sobreviver e honrar compromissos.

Essa prática, embora necessária, desequilibra a relação natural entre desemprego e consumo e pode dar origem a um cenário frágil e suscetível a choques internacionais.

Foi o que aconteceu com os gargalos de produção por falta de componentes.

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Exemplos de estagflação pelo mundo

A estagflação atual não é um caso isolado. Ao longo do século XX, diversas economias ao redor do mundo passaram por períodos de inflação alta, desemprego e queda da atividade econômica.

Veja alguns casos famosos:

Reino Unido na década de 70

O período da história que deu origem ao termo estagflação aconteceu no Reino Unido durante a década de 1970 marcada pela política expansionista de Anthony Barber, secretário do Tesouro do na época.

Na ocasião, a economia do país recebeu a injeção de milhões de libras entre 1971 e 1973.

Em um primeiro instante, os estímulos fiscais, que aumentaram a quantidade de dinheiro em circulação em 25%, impulsionou a economia do país.

No entanto, a forte expansão monetária e a posterior inflação, foi agravada pelo encarecimento do petróleo no mercado mundial em 1973. 

O cenário fez com que a inflação e o desemprego disparassem e o PIB ficasse negativo para o país naquele ano.

Estados Unidos e o primeiro choque do petróleo na década de 70

Em 1973, o mundo passou pela primeira crise global de petróleo nos Estados Unidos.

Na época, os países árabes produtores de petróleo suspenderam a exportação da commodity aos Estados Unidos e outros países aliados que apoiavam militarmente Israel na época.

A decisão fez com que o preço do petróleo quadruplicasse no intervalo de três meses, resultando em um efeito cascata de maiores custos de transportes e no preço das mercadorias em geral.

Isso foi agravado, porque os EUA estavam enfrentando um preocupante quadro de desemprego interno.

Tudo isso levou o Fed a alternar políticas monetárias, ora mais restritivas para combater a inflação, ora mais expansionistas para tentar recuperar a economia.

Essas oscilações na política monetária provocaram um clima de incerteza e desconfiança no mercado que se seguiu ao agravamento da estagflação no país.

Alemanha pós Primeira Guerra Mundial

Os problemas financeiros da Alemanha começaram ainda durante a Primeira Guerra, com o governo direcionando praticamente todos os recursos do país para o financiamento da guerra. 

A economia alemã terminou a guerra com um grande rombo nas finanças e endividada.

Para piorar, o país ainda sofreu sanções internacionais impostas pelo Tratado de Versalhes. 

Uma das penalidades foi indenizar os países aliados por todos os prejuízos sofridos durante o conflito. 

Sem condições financeiras, a Alemanha precisou se endividar ainda mais.

Com isso, mergulhou em uma crise sem precedentes na história recente.

Brasil nos anos 80

O Brasil passou por momentos parecidos nos anos 80, período considerado como a “década perdida”, marcada por alta inflação, crises econômicas, baixo crescimento do PIB e forte aumento da desigualdade social.

Além da péssima situação interna, as taxas de juros no mercado internacional subiam, o que encareceu a dívida externa do Brasil e aumentou o déficit público.

A estabilidade econômica só foi retomada com o Plano Real, em 1994.

Como a estagflação afeta os investimentos

Em momentos de turbulências econômicas, como acontece no cenário de estagflação, o mercado de ações acaba sendo fortemente afetado pelas condições adversas.

Muitas empresas que dependem do consumo direto sofrem com a perda do poder de compra dos consumidores.

Com isso, as ações geralmente desabam. A aversão ao risco faz com que os investidores busquem por investimentos mais “seguros”. Existe uma fuga do capital estrangeiro em direção aos países com economia mais forte.

Isso abre oportunidades na bolsa de valores para comprar abaixo do valor justo, mas cuidado para não sair comprando sem avaliar se a condição da empresa.

A diversificação dos investimentos é ainda mais importante nesse cenário.

Quando se tem ativos de diferentes classes, estratégias e países, maiores são as chances de diluir os riscos e maximizar o resultado da carteira.

Lembre-se de sempre manter uma reserva de emergência adequada, já que o enfraquecimento da economia pode afetar as pessoas de formas diferentes.

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